Fernando Henrique Cardoso
-Pontos positivos e pontos negativos dos últimos oito anos?
Bom, o primeiro ponto positivo foi a manutenção da política econômica. Foi basicamente o Palocci que ajudou, mas o Lula concordou, isso foi bom para o Brasil, está aí até hoje, deu certo. Segundo eu acho que o Lula não candidatou-se pela terceira vez. É positivo, respeita a democracia. E por fim, não há dúvida que ele deu impulso grande aos programas sociais. Mesmo que eu os tenha começado, e eu os comecei, ele teve a chance e estendeu bastante. Acho que são pontos positivos.
-E os negativos?
Negativos eu acho que em primeiro lugar foi não ter mantido a questão das instituições como eu imagino que pudessem ser mantidas, por exemplo, as agências reguladoras de petróleo, energia elétrica, não sei o quê. Ele transformou em cargos para dar para políticos. Isso eu acho negativo. Segundo, o presidente ter tido, o presidente ter sido muito condescendente com seus amigos, quando eles foram pegos fazendo falcatruas. Isso eu acho uma coisa negativa. Terceiro, uma certa arrogância. Achar que começou tudo, não dar crédito ao passado. Não à mim só não, à muitos que o antecederam, então uma certa arrogância, isso eu acho negativo.
-O que acontece com o presidente Lula agora?
Eu acho que vai acontecer o que acontece com todos. No começo pode até ficar um pouco perdidão, enfim, não tem mais aquele aparato. Depois vai se habituar. O presidente Lula, vem de lutas sindicais, lutas políticas, sempre fez campanhas, vai continuar fazendo que é do estilo dele, não é? Eu acho que ele vai se ajustar à situação. Ele é um homem que tem uma capacidade adaptativa muito grande, eu acho que ele vai se ajustar.
-Como o homem Lula mudou nestes oito anos?
Ah muito! Primeiro que todos nós envelhecemos rapidamente na presidência. Isso é visível. Pegue a fotografia do primeiro dia e do último, a mudança é muito grande. Segundo o Lula ficou muito mais desembaraçado né? Ele hoje é uma pessoa que fala com loquacidade e em geral com propriedade sobre vários temas. Ele mostrou a capacidade de se adaptar, ele mudou bastante nesse... nesse sentido. Terceiro acho que ele ficou um pouco mais auto suficiente. Cada um tem sua reação no período, mas, que as pessoas mudam, mudam. Algumas mudanças são para melhor, outras são razoavelmente um pouco mais negativas. Isso é normal. É da vida. Não vai acontecer com o Lula diferente nesse aspecto humano. Porque aconteceu comigo, com o Itamar, com o Sarney, e sei lá, lá para trás né? Pelo menos aqui houve uma coisa importante. É que as transições tem sido dentro da democracia. Isso é muito importante. Porque no passado foi muito tumultuoso, muito difícil. E havia sempre uma tensão, vai ceder o poder, não vai? Isso acabou. Isso ajuda as pessoas. A pessoa sai com uma naturalidade de uma posição lá em cima, para ir pro, pro...aquilo que é bom mesmo, é ficar igual a todo mundo, não é? Há um aspecto do anonimato que é muito importante. Eu, quando fui, deixei a presidência, a primeira sensação, digamos...respirar, eu estava com a Ruth, minha mulher, e nós fomos para a França, eu fui sem ninguém, sem seguranças, assessores, nada. E quando eu cheguei lá tinha um carro da embaixada e a polícia francesa nos cercou para ir para o hotel que nós íamos perto de Paris. Chamei o chefe da polícia francesa e disse: “olha aqui, muito obrigado, mas eu não preciso”.E aí eu fui só com a Ruth à uma catedral que eu gosto muito, e quando eu entrei na Igreja, não tinha repórter, não tinha segurança, não tinha gente ao meu redor, isso dá uma certa alegria íntima, você volta a ser o que você é, uma pessoa como as outras são. Eu acho ótimo.
-Legado para o próximo governo
Eu acho que foi o que eu mencionei. Quer dizer, o país cresceu mais e tem uma inclusão social que se acelerou. Começou antes, mas se acelerou. E é um país mais autoconfiante. E isso é positivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário