quinta-feira, 16 de junho de 2011

O idealismo do livre arbítrio

Logo na abertura do ato III, cena I, Hamlet proclama a frase mais famosa das obras de William Shakespeare: “Ser ou não ser – eis a questão”. Para o personagem “ser” era estar vivo e “não ser” representava a morte.  Mas até hoje estas palavras são usadas em questionamentos mais filosóficos do que a intenção do seu primeiro interlocutor. Me apropriando desta simples dúvida existencial, eu pergunto: qual é a nossa autonomia em “ser”?

Quem é você? Quanto de você é de sua própria escolha e autoria? Temos a certeza de que somos assim ou assado porque nos constituímos desta forma durante a vida, mas há quem conteste. Veja só:

-Para os que acreditam na reencarnação tudo começa antes do nascimento onde você já é alguém e chega nesta vida com um karma e com propósitos x ou y. 
-Na gestação, a cor da pele, dos olhos, dos cabelos, a altura, os futuros problemas de saúde, os já presentes problemas genéticos... tudo acontece pela hereditariedade dos pais deixando o recém chegado sem opções.
-Quando nasce está definido: se é libriano vai ser de um jeito, se é geminiano, de outro.
-O time ou esporte do coração são embutidos durante a infância pela família. O gosto musical segue a mesma linha.
-Se a família come com garfo e faca ou pauzinhos, se arrota na mesa ou é refinada e usa guardanapo de pano, se come de boca aberta ou de boca educadamente fechada... essa cultura do certo e do errado é quase impossível de quebrar depois de mais velho.
-Se a sociedade ao redor da pessoa mata recém nascidos se forem meninas, se a mulher é vista como segundo escalão, se encher de porrada os filhos é normal, se comer carne é proibido... o pobre coitado do ser humano recém chegado já está fadado a ver o mundo com estes estigmas.
-Somos regidos pelo instinto animal queiramos ou não. É possível controlar as grandes explosões de raiva, mas vamos sempre lutar pela sobrevivência, as mães vão ter a audição mais apurada por causa dos bebês, e alguns reflexos ao defender um ente amado são inevitáveis.

Posso dar mais alguns exemplos mas acho que já ficou claro onde quero chegar. Somos individualmente fruto de pré-definições. E aquele que está revoltado pensando que isto é um absurdo, que tem todo o controle sobre suas escolhas, cuidado. Você é o que é pelo que viveu e como chegou até aí. E só chegou aí pelos meios que a vida e a genética os deram.

Sim,é óbvio, nós genuinamente pensamos por nós mesmos ( em alguns momentos ), há pessoas que quebram paradigmas de sociedades, pessoas além de seu tempo, ovelhas negras entre a maioria. Só vale realizar que em boa parte do tempo somos fruto de uma grande falta de livre arbítrio. Ainda bem que gosto de quem sou e de como sou, mas para quem quer se reinventar... boa sorte.

Um comentário:

  1. Todos os dias estamos nos reinventando...e somos fruto do meio e meio do fruto...isso é o mistério da vida...só parqa deixar uma pergunta no ar....Deus fez tudo???? e quem fez Deus? Responda quem puder.

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